Contra o relaxamento do isolamento social e o retorno prematuro às atividades

Com salas de aulas lotadas, espaços reduzidos e banheiros precários não é possível tomar os cuidados epidemiológicos necessários

Nos últimos dias, tem nos chamado atenção diversas declarações tanto do ministro da saúde Nelson Teich que, tutelado pelo presidente Jair Bolsonaro, não tem dado a ênfase necessária para o isolamento social, como de governadores, prefeitos e secretários(as) em relação ao relaxamento de medidas e retorno de algumas atividades.

Em Minas Gerais, a Secretaria Estadual de Educação já antecipou o recesso de julho. A secretária é favorável à retomada das aulas o mais rápido possível para evitar, segundo ela, grande sobreposição de horas, “afetando muito mais diretamente a vida de professores e alunos”. Apesar de dizer que devem ser tomados cuidados epidemiológicos e sanitários, sabemos que a realidade das escolas no Brasil, não permite que sejam tomados nem mesmo o mínimo dos cuidados exigidos (distância mínima e higiene). Com salas de aula lotadas, espaços reduzidos, banheiros e demais dependências precárias, o contágio e a expansão da pandemia serão certos.

Em BH, a Secretaria Municipal de Educação já antecipou as férias de todos os trabalhadores, com exceção dos professores. Mesmo não tendo repassado orientações para a realização do Ensino a Distância (EAD), o que consideramos uma posição acertada, a Secretária de Educação Ângela Dalben mencionou em uma entrevista a possibilidade do retorno em junho as aulas, o que muito nos preocupa. Não vemos a mínima condição de retorno à normalidade enquanto a pandemia não estiver sob controle. Não podemos voltar ao trabalho enquanto não houver segurança com relação ao risco de contágio e disseminação dessa terrível doença. Como dito acima, nossas escolas já funcionavam de forma precária muito antes da pandemia e, nesse contexto tão desafiador, não temos possibilidade de um retorno seguro em escolas que apresentam tais condições.

Nunca foi dada à educação e à saúde a devida atenção e destinação de recursos necessários à sua manutenção e desenvolvimento, mas nos últimos anos especialmente, temos sofrido com o congelamento de verbas e com a ideia tão difundida de um suposto excesso de gastos sociais. Colhemos agora, em ambas as áreas, anos de desinvestimento. Há tempos esse descaso mata sonhos e vidas, mas com a pandemia e a instauração do caos já em alguns municípios do país, com a falta de vagas em UTIs, falta de respiradores e EPIs, estamos frente a um cenário ainda mais alarmante e, caso não optemos agora pela vida, teremos após a pandemia, uma nação arrasada. Diante dessa realidade, não haverá economia que nos salve, não há dinheiro que pague por vidas. Nossas vidas valem mais!

Exigimos que Kalil não volte atrás no isolamento social, pelo contrário, é necessário que ele seja ampliado. Já é perceptível que, em vários pontos da cidade, o isolamento social começa a perder força, com terminais de transporte público lotados e aglomeração de pessoas. A PBH deve ter uma campanha efetiva no sentido de evitar esse tipo de situação e ampliar a adesão ao distanciamento social, já que essa é justamente a única forma viável de parar a escalada de propagação do vírus e consecutivamente o colapso do sistema de saúde pública, que já é uma realidade em diversos estados do país.