Resposta do Sind-REDE à matéria do Jornal O Tempo “Pais reclamam de ‘apatia’ das escolas municipais da capital na pandemia”

A não utilização de recursos que parecem ser a solução não é ‘apatia’, ao contrário, é luta, é respeito, é trabalho.

Desde o início da pandemia, que trouxe consigo uma crise sanitária gravíssima e problemas novos em todos os âmbitos, temos debatido e nos debruçado sobre todas as questões que envolvem tanto os processos de luta pelos direitos, quanto as questões educacionais mais específicas.

Entendemos que a prioridade é sempre a defesa da vida, mas não temos nos furtado de fazer todos os debates que envolvem as questões pedagógicas, no sentido de minimizar os impactos sobre o ponto de vista do processo de ensino aprendizagem. Entretanto, entendemos que sobre o ponto de vista da luta por uma educação de qualidade e que seja de fato para todos, a Educação a Distância e o Ensino Remoto não podem ser uma possibilidade, visto que não são modalidades de ensino condizentes com a realidade da imensa maioria dos estudantes das escolas públicas no país e em nossa cidade. Defender esse caminho é desrespeitar o direito de milhares de estudantes e famílias que não têm a estrutura material e, muitas vezes o letramento necessário para auxiliar os filhos na condução desses processos.

Implementar a EAD e o Ensino Remoto nesse momento irá acentuar ainda mais as discrepâncias sociais, digitais, culturais e econômicas dos estudantes, tornando mais desigual as oportunidades de acesso ao conhecimento. Isso sem contar com a situação dos professores e professoras que têm salários rebaixados e vêm enfrentando em Belo Horizonte, problemas como o corte de metade de seus vencimentos e do ticket alimentação. Pensando na realidade de nossa cidade, onde mesmo estando em teletrabalho são os próprios trabalhadores que têm que arcar com os custos de ligações, da internet e demais gastos advindos dessa nova modalidade, quantos são os que teriam a infraestrutura para realizar com qualidade esse atendimento? Essa é uma realidade que parece distante, mas que está presente entre os Trabalhadores em Educação da Rede Pública. Nem os sistemas e instituições de ensino estão preparados para a adoção de tais práticas, nem os docentes têm formação adequada para o uso de ferramentas online, pois esta nunca foi uma exigência para a sua formação e atuação.

Além desses graves problemas existe um importante debate a ser feito. A ampliação da EAD, representará um salto gigantesco na privatização da Educação, na transferência de recursos públicos já tão escassos para instituições privadas, situação que já vem ocorrendo e tende a se acentuar nesse período, como o uso indiscriminado de plataformas e demais recursos tecnológicos que têm sido necessários.

Entendemos a ansiedade das famílias e compreendemos que há prejuízo para as crianças, jovens e adultos por estarem afastados da escola. Entendemos e como professoras e professores também vivenciamos essa ansiedade em nossos lares, seja por nossos filhos e filhas, seja por nossos estudantes que nesse momento estão sem o amparo da escola. Entendemos que grupos de WhatsApp, e-mails, aulas e mais aulas gravadas, dentre tantas outras estratégias usadas, apesar de jamais serem substitutos das trocas e dos processos de interação que ocorrem nas escolas, podem ser um meio de manter vínculos e, em alguns contextos, levar conteúdos e gerar aprendizados, mas num contexto em que a grande maioria não poderá usufruir dessas ferramentas, é correto sua utilização? Não podemos conceber que mais uma vez essas mesmas crianças, jovens e adultos sejam punidos por uma política excludente e cruel. Política essa que se escancara na pandemia, mas que ano após ano é vivenciada pelos que dependem da escola pública nesse país.

Outro ponto importante, que vem sendo cobrado e muito debatido é relativo ao retorno às atividades escolares presenciais. Retorno que se mostra cada vez mais essencial principalmente nesse momento em que a cidade é reaberta e tem todos os seus serviços sendo prestados novamente. Como manter as escolas fechadas se os pais dos estudantes têm que sair para trabalhar? Sim. Essa é uma questão muito séria, as escolas realmente são essenciais. Mas por outro lado, como pensar em retorno no atual cenário, que apresenta números crescentes de contágio e meses de estabilidade em um patamar elevadíssimo de mortes? Como pensar em retorno em um país que não testa e assim, não consegue impedir que uma grande rede de contaminação seja crescente? Essas e outras questões devem ser respondidas antes de pensarmos em retornar às aulas, pois caso não sejamos prudentes nesse grave momento, estaremos ampliando e muito a rede de contaminação que já está instaurada em nosso país, condenando a morte idosos, jovens e crianças.

Professoras e professores da Rede Municipal de Educação sabem da responsabilidade que carregam sendo professores dos filhos dos trabalhadores e trabalhadoras dessa cidade. E é justamente por essa responsabilidade, e por não querer que nenhum desses estudantes esteja fora do processo, é que têm trabalhado incansavelmente para buscar alternativas de alcance e acesso que não dependam de meios que são potencialmente tão excludentes.

Diretoria Colegiada do Sind-REDE/BH