Carta dos Trabalhadores da Rede Municipal de Educação de BH à Comunidade

Defendemos que a escola não deve contribuir para ampliar desigualdades do nosso país e da nossa cidade, especialmente nesse momento de fragilidade

Olá, como estão?

Nós trabalhadores da Rede Municipal de Educação estamos atentos e preocupados com a situação da Pandemia causada pela Covid-19 em nossa cidade. O aumento assustador dos números de casos e mortes, as famílias que tem lidado com dificuldades de conseguir leitos e aquelas que estão tendo que se despedir à distância de pessoas queridas são realidades perturbadoras presentes nas vidas de muitos de nós nesse momento.

Também lidamos com a saudade da escola, da nossa rotina de trabalho, nossos amigos, colegas, alunos, todos distantes. Mas sabemos que a escola é muito mais do que uma estante onde se disponibilizam matérias ou conteúdos a serem acessados pelos alunos. Sabemos que educar vai muito além de ensinar. Nas escolas de Educação Infantil e Fundamental nossas crianças, jovens e adultos se desenvolvem. Na relação que se estabelece na escola entre todos construímos conhecimentos e habilidades sociais, físicas e também cognitivas. Não queremos aceitar reduzir a educação ampla a mera “ensinagem” ou “ensinança”.

Nesse momento lutamos contra a redução definitiva de todos os salários em 3% (ampliação da alíquota previdenciária), contra o corte de dobras que representam metade dos ganhos de muitos profissionais e também pelo pagamento do ticket alimentação dos terceirizados que representam cerca de 40% dos ganhos de algumas famílias. Sabemos que muitas famílias, como nós, estão lidando com cortes de salários, e outras enfrentam o desemprego e dificuldades em acessar o insuficiente auxilio do governo, por isso também estamos lutando por quarentena geral e um auxilio maior para todos, inclusive micro e pequenos empresários.

Não queremos ignorar e tensionar essas realidades transferindo para as famílias mais responsabilidades além das que já possuem com a educação de seus filhos. Não aceitamos de forma alguma que a escola que conquistamos para todos brasileiros se torne nesse momento um espaço que privilegia aqueles com maior estrutura emocional, social e material. Defendemos que a escola não deve contribuir para ampliar as desigualdades do nosso país e da nossa cidade, especialmente nesse momento em que estamos todos mais frágeis.

Estamos entrando em teletrabalho para nos formar e para manter os vínculos com vocês, como espaço de acolhimento e escuta que a escola sempre foi e cobrando do governo que disponibilize junto aos outros órgãos uma estrutura mais capacitada para os diversos tipos de acolhimento (social, psicológico etc.) que necessitamos todos, profissionais e comunidade, neste momento. Contamos com a compreensão de todos sobre nossa opção por manter a defesa de uma educação pública gratuita e de qualidade PARA TODOS, sem aceitar a redução de nenhum desses parâmetros. Cuidem-se todos,

Com saudades,

Trabalhadores da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte.

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